domingo, 5 de setembro de 2010

Com o destino não se brinca...

Quando você planeja uma viagem de férias, nunca pensa no pior. Estuda seus roteiros, controla a ansiedade, imprime sua passagem e espera pelo melhor. O pior que pode acontecer o que seria? Perder o vôo, talvez remarcarem o seu vôo, ou no máximo uma mala extraviada. Qual a probabilidade de alguma destas opções acontecer com você? Ou qual a probabilidade de tudo isto acontecer com você? Pior, qual a probabilidade de tudo isto acontecer e no meio do caminho seu corpo desenvolver uma doença rara e severa que atinge 1 pessoa em 100 mil??? Pois é, eu deveria ter jogado na loteria européia...
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Ao longo de 2 anos e meio morando na Irlanda nunca senti necessidade alguma de voltar para o Brasil. Minha saudade familiar era nutrida através da internet e telefonemas. Os sabores do Brasil eu subistituí por sabores da Europa e assim fui vivendo, sem muito sofrimento. O mundo sempre esteve ali nas minhas mãos: Inglaterra, Alemanha, França, Bélgica, Itália (ah linda Itália que sempre lembra minha mãe), Escócia, Índia, Espanha. Depois de conhecer um pedacinho do mundo a oportunidade de voltar para o Brasil apareceu.
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Meses e meses pensando nas férias, na verdade meses e meses pensando em negociar minhas tão sonhadas férias de verão nas praias do Brasil foi um parto, analisando o caso "meu gerente decide os poucos dias que ficarei " me levou a marcar passagem para o meio de Janeiro de 2010. Tudo foi planejado com perfeição: chegaria 3 dias antes do meu aniversário, 21-01 e voltaria 2 dias depois do aniversário da minha mãe, 19-02. Ao mesmo tempo fugiria do inverno mais rigoroso da Irlanda dos últimos 30 anos, aproveitaria o quente e ensolarado verão do Brasil e gastaria meu dinheiro mais do que suado da Irlanda realizando a cirurgia plástica dos meus sonhos: otoplastia ou a famosa orelha de abano.
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Toda a programação foi feita em novembro de 2009. O Natal chegou e com ele a neve. Curti cada momento do inverno. Acordei vários dias me sentindo o Macaulay Culkin em "Esqueceram de mim" 1,2,3,4... quando vi a neve. Fui para muitas festas, conheci muitas pessoas, tive momentos especiais, aproveitei comemorei minhas orelhas novas antes do tempo e bebi o máximo que pude. Ainda bem que não temos conciência do que pode acontecer amanhã, ou aproveitaríamos demais e talvez não seria nada bom, muito mais perigoso do que o suposto pior dia de amanhã...
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E assim foi o fim do meu ano de 2009. O novo ano entrou, minha mente focava no Brasil e foi a partir daí que minha vida mudou. Para deixar tudo bem claro e não perder nenhum detalhe do que foi esta experiência de medo e encontro com Deus, vou estruturar este memoir em 3 partes, porque é assim que vejo a minha evolução durante a Síndrome: antes, durante e depois do diagnóstico de Guillain-Barré.

Um comentário:

  1. Vou aguardar a próxima postagem e conhecer o que, um dia, será um livro.

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