quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

8. Transferência e nova UTI

A transferência para Curitiba foi mais tranquila do que imaginei. Desligaram todos os equipamentos que estavam em mim e lá fui eu para a UTI móvel ser levada para o Hospital Angelina Caron.
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Acho que o medo de todo mundo e principalmente o meu, era sentir muita dor durante a viagem, ou acontecer o pior durante o trajeto...Mas deu tudo certo e a equipe que me acompanhou me deixou tranquila e fizemos boa viagem.
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Não lembro o nome do médico que me acompanhou na ambulância, muito menos o do motorista, mas lembro muito bem do rosto do médico e da voz dos dois xingando muito o trânsito durante nossa viagem!! Foi uma adrenalina só estar ali deitada na maca, toda presa com cintos de segurança, escutar a sirene tocar e sentir o carro correr de uma tal maneira que só tinha visto em filmes.
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Minha mãe estava comigo o tempo todo, e assim fizemos uma viagem rápida de volta para o Paraná. Lembro que o médico me deu uma remédio para ajudar a dormir. Na minha cabeça eu não dormi 100%, mas quando chegamos em Curitiba ele perguntou se tinha relaxado, eu falei que não e ele afirmou que sim! Disse que eu tinha dormido...Bom...pelo jeito devo ter dormido mesmo...Porque para mim a viagem foi rápida, sem dor e poucas vezes escutava de longe o barulho da sirene, minha mãe conversando com eles ou rindo de cada xingamento por causa do trânsito, que infelizmente, não respeita ainda uma ambulância nas ruas e estradas do Brasil. 
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Outra lembrança que tenho bem clara dessa noite é quando eu falei para minha mãe que um dia queria voltar para o hospital de Camboriú, para agradecer todos os enfermeiros que cuidaram de mim na UTI. Denovo na minha cabeça eu falei bem claro e com essas palavras o recado para minha mãe, mas segundo ela eu falei que queria voltar para ver os "menininhos" e ela já se desesperou achando que eu estava vendo anjinhos e indo para o céu(hahaha). Desespero de mãe e deficiência vocal de filha! 
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Já dentro do hospital, gigantesco pelo que pude observar, mesmo deitada todo o tempo, fomos parar na emergência. Colocaram a maca meio de mau jeito dentro de um quarto que já tinha algumas (muitas) pessoas e durante todo o tempo minha mãe estava tentando falar com a enfermeira e com a médica de plantão, muito grossa por sinal, também chamada Cíntia, de que estava acontecendo algum engano.
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Minha mãe tentava explicar que era um caso raro, que um neurologista estava me esperando, que tínhamos acabado de chegar de Santa Catarina, e que era para eu ser transferida direto para a UTI. Durante o meio tempo, uma enfermeira já estava tirando os brincos que ainda estavam na minha orelha, e para o meu desespero, falou que eu precisaria trocar a sonda nasal. *Minha maca já estava posicionada de uma maneira para que eu passasse a noite por ali mesmo.
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Quando sai da UTI de Camboriú com o cano da sonda nasal ainda dentro de mim, senti um alívio por não precisar passar por toda aquela dor de novo para talvez colocar outra sonda . Mas no Angelina Caron, me explicaram que o risco de contaminação era grande, e por isso seria necessário fazer a troca...
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Enquanto a enfermeira tomava conta de mim, e eu sentia um caos a minha volta, minha mãe conseguiu resolver tudo, localizaram o neurologista que tinha aceitado meu caso e seria transferida para a UTI assim que possível.
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Diz minha mãe que foi impressionante a mudança de comportamento da tal Dr. Cíntia assim que soube do meu caso e que não era paciente da emergência. Enquanto TODOS têm o direito de serem tratados igualmente, naquela situação eu tive a infelicidade de encontrar uma médica arrogante e que não soube lidar com o desespero de uma mãe tentando se explicar. Pelo que eu me lembre, isso também faz parte do trabalho dela...mas...enfim...
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Já mais debilitada e totalmente perdida, sem saber o que estava acontecendo, começaram a empurrar a minha maca a caminho da UTI, e foi no corredor que tive um dos momentos mais emocionantes durante toda essa caminhada.
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Por coincidência, meu ex namorado, que também mora na Irlanda, estava de férias no Brasil, e naquele dia estava em Curitiba com sua família. Como a história se espalhou muito rápido, de alguma maneira eles souberam para que hospital eu estava sendo transferida em Curitiba e foram até lá para me ver. Eu não esperava, nem minha família sabia que eles estariam lá.
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Quando a maca parou e eu olhei para o lado e vi todos eles lá...O Reinaldo (meu ex), sua mãe, pai, irmã...foi muito, mas muito emocionante para mim. Até então as pessoas que tinham me visto naquela situação estavam entre meus pais, meu irmão e uma tia. Eu não tinha me dado conta da proporção do meu caso, de quantas pessoas estavam sabendo e de que o problema já não estava só nas mãos da minha família, mas que todos de alguma forma queriam ajudar.
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Sem nem ter tempo para pensar, eu comecei a chorar muito assim que os vi. De medo de estar morrendo, medo de estar vendo eles pela última vez, desconforto por estar na situação que estava, sem voz e expressões suficientes para demonstrar qualquer tipo de carinho...Enfim...Eu chorei...
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Ver nos olhos das pessoas o medo também não é uma tarefa muito fácil. Muitas vezes não é um olhar de dó, mas quem está do seu lado também sente medo e é muito fácil reconhecer isso. Olhar para eles foi doloroso, porque o susto, o medo estavam estampados em cada um. Mas lembro das palavras de conforto que eles falaram para mim, do carinho na cabeça e na mão, da oração... Sinto um carinho enorme por todos eles, e por mais que o choro tenha feito parte desse encontro, foi bom saber que outras pessoas além da minha família também estavam torcendo para mim.
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Depois do encontro que deve ter durado poucos minutos, fui direcionada para a UTI e cada vez mais sentia medo. Medo do desconhecido. Nova equipe médica, novos enfermeiros e um novo estágio da doença. O hospital parecia um labirinto, me empurravam por vários corredores, elevador, até que cheguei na UTI, GIGANTESCA...e me assustei mais.
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Um lugar enorme, com muitas camas, muitas pessoas sendo monitoradas e muitas pessoas trabalhando. Colocaram a minha cama logo perto da porta e ali fui apresentada para a enfermeira padrão e para os enfermeiros e auxiliares que estavam trabalhando naquele plantão. Trocaram minha sonda, minhas roupas e me colocaram no colchão mais desconfortável possível. Quem já ficou mais de 5 dias 24 horas por dia em cima de um colchão inflável sabe do que estou falando...
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A dor para colocar a sonda foi a mesma, na verdade ainda pior, porque tirar a primeira também foi bem desconfortável. Ligaram todos os aparelhos e me colocaram o mais rápido possível no oxigênio, pois o risco de parada respiratória ainda era alta naquele estágio da doença, por isso a UTI.
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A enfermeira conversou comigo e disse que o médico estaria lá a qualquer momento para me visitar. Tudo era novo e confuso e o que eu mais queria era sair daquele lugar, que para mim parecia o caos desde o primeiro momento e assim foi até o último.


2 comentários:

  1. Olá, Cíntia! Tudo bem?
    Podemos dizer que sim, né? Vi sua página por acaso. Sou Fisioterapeuta e, naquela mania e necessidade de me atualizar sobre patologias e tratamentos, numa breve pesquisa achei seus depoimentos. Parabéns pela sua recuperação, viu! Muito disso foi mérito seu, da sua gana de viver, vontade de vencer nesse tratamento. Tanto que deu certo. Graças a Deus! Li o que escreveu sobre o tempo que deixou de escrever e a súbita vontade de voltar ao blog. Continue dividindo conosco suas experiências! É importante pra outros pacientes verem que podem vencer essa luta. É importante para as famílias terem fé e poderem acreditar. É importante para nós, Fisioterapeutas, e colegas da área de saúde, sabermos do ponto de vista do paciente como é passar por esses obstáculos. E pra você, por poder mostrar ao mundo que superou, foi forte, sofreu, mas venceu!
    Um brinde a vida! Tudo de melhor pra você! Fica com Deus!

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  2. Oii, gostaria de conversar com você pelo whatts... Também já tive a mesma doença que você teve e queria trocar algumas ideias e conversarmos mais. Me passa seu e-mail ou seu número??

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