segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

CÍNTIA EM TEMPO REAL

Altos e baixos...

Sexta passada recebi a ligação das minhas amigas de Dublin para poder ir na casa delas, montar a árvore de Natal e comer panetone que a Joice trouxe do Brasil. Foi uma noite agradabilíssima, me diverti muito, tiramos um milhão de fotos e quando fui postar algumas fotos no Facebook, enquanto ainda escutávamos música e tomávamos vinho, me deparei com essa foto:


É uma foto antiga, um ano antes de vir para a Irlanda, mas o que incomoda é olhar a aparência que eu tinha antes e a que eu tenho hoje... Olhei para as meninas, pois estávamos todas sentadas na sala e falei que o que me deixava mal era ver fotos como essa...Depois de mostrar a foto para elas tive uma mini crise de choro...
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Vamos ver se consigo me explicar:
Por mais que eu seja consciente de que tive uma recuperação recorde, muito mais rápida do que o normal, comparando com a gravidade do meu caso ( a síndrome me atacou de uma forma muito severa e perdi todos, TODOS os movimentos do meu corpo muito rápido), eu sou humana, sofri muito durante a recuperação e agora na parte final parece que perco o controle muitas das vezes e me preocupo com algo que pode parecer fútil, a aparência.
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É muito difícil pois quando o seu corpo muda e principalmente o rosto perde as expressões, a auto-estima vai para o chão, e foi exatamente o que aconteceu comigo. Eu sinto muita falta do meu sorriso, mas sorriso mesmo, igual a esse da foto, com dentinhos para fora!
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No começo da recuperação estava sempre muito focada em voltar a andar. Tive muito medo de ficar presa em uma cadeira de rodas pelo da resto da vida, mas quando comecei a ver a cada dia o progresso dos meus movimentos, comecei a ficar preocupada com as expressões do rosto que não voltavam.
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Além da dificuldade de me comunicar pois minha voz também estava muito fraca, eu não tinha expressão de dor e nem de felicidade. Não conseguia sorrir para demonstrar que estava bem e nem fazer cara feia para reclamar de alguma coisa, e essa situação foi se estendendo por meses e hoje, quase dois anos.
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A falta de expressões causou várias situações engraçadas e uma que nunca vou esquecer aconteceu quando já estava em casa e vi essa propaganda na tv pela primeira vez:



Quando a menininha pergunta para o pai por que o peixe não pisca o olho (hehe), eu achei muito, mas muito engraçado, mais até do que que realmente seja, mas dou risada até hoje. O problema é que na época não tinha voz e não movimentava nada no meu rosto, só abria e fechava a boca. Então quando tentei rir da propaganda um som muito feio saiu de mim, como se eu estivesse me afogando, uma mistura de falta de ar e soluço. Minha mãe veio correndo para o quarto e se desesperou. Ela achou que eu estava passando mal, que estava me afogando (uma das preocupações era eu me afogar em caso de vômito, por isso precisava estar acompanhada 24 horas, caso isso acontecesse alguém tinha que estar lá para virar meu corpo para o lado) e foi isso que ela fez! Ela gritava perguntando o que estava acontecendo, me virava de lado, e cada vez mais que via o desespero dela, mais engraçado eu achava e mais eu ria (daquele jeito feio). Foi desesperador para mim, pois não conseguia parar de rir e arrumar fôlego para tentar explicar a situação e acho que muito pior para minha mãe, por estar sempre assustada esperando o pior. Foram alguns minutos para eu me recuperar e explicar tudo. Quase apanhei. Damos muitas risadas até hoje por conta de situações como essa...
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Então dá para entender por que o rosto me afetou tanto? Recebia visitas e não conseguia sorrir...Até meu namorado, na época sabendo de tudo o que estava acontecendo, quando chegou no Brasil para me ver e fui buscá-lo no aeroporto, ficou chocado com a minha falta de reação. Dentro de mim eu estava transbordando felicidade, mas meu rosto não mostrava nada. Foi difícil para ele se acostumar com tudo aquilo.
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Eu não tenho fotos do hospital e nem da época da cadeira de rodas. A primeira foto que tirei depois da doença foi durante a festa que ganhei dos meus pais para comemorar minha recuperação e convidar todos aqueles que de uma maneira ou de outra ajudaram minha família. Então foi uma comemoração em dobro, meu aniversário, minha nova vida e o dia de rever todos os amigos, inclusive amigas de infância e faculdade (Oie Lorena, Rosane, Ana Carol e Cibele).
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Então hoje, antes de continuar com a história, resolvi escrever em como estou me sentindo, que tenho altos e baixos e que quando vejo uma foto com o sorrisão fico mal, mas quando vejo uma foto ainda paralisada agradeço de joelhos por estar aqui como estou.
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Então escolhi 10 momentos que mostram um pouco da minha evolução:
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1- Janeiro de 2010- 3 dias antes de ir para o Brasil, mal sabia que em 2 semanas estaria na UTI


2- Fevereiro 2010- Primeira foto tirada desde o diagnóstico da doença. Já estava andando, mas não tinha expressões faciais ainda. Também é possível ver como fiquei abatida e  magra depois de perder 10 kilos. Mas estava muito, muito feliz em rever minhas amigas depois de 3 anos.


3- Abril 2010 -Depois de sentir que o corpo estava 100%, foi a hora de viajar para São Paulo e rever todas as amigas de Dublin que coincidentemente estavam todas no Brasil! Não poderia perder a oportunidade. Foi emocionante, mas ainda sem expressões...


4- Em São Paulo mesmo, fiquei lá por um mês quase, foi quando comecei a ver os primeiros progressos no meu rosto, e quando voltei para casa já tinha uma expressão completamente diferente, mais leve! E também foi quando comecei a mudar o visual. Isso me ajudou muito no processo de aceitação, e desde então mudo meu cabelo quase todo mês!




5- Maio 2010- Estava bem melhor e pronta para as Bodas de Ouro dos meus avós!




6- Junho 2010- Me sentindo mais confiante e esperando eu ficar com um rosto mais simpático, foi a hora de voltar para Dublin.




7- Outubro 2010- A promessa que tinha feito de ficar 6 meses sem beber a partir do momento que eu me considerasse curada tinha acabado. Juntei a mulherada e fomos tomar a minha primeira cerveja da nova vida! Foi uma festa só, me diverti, me descontrolei e no fim até meus dentes começaram a aparecer!!! :)




8- Novembro de 2010- Minha primeira viagem depois de voltar para a Irlanda. Fomos comemorar a nossa amizade em Veneza!!



9- Janeiro de 2011- Um ano depois da doença, eu comemoro meu aniversário em Dublin e no Egito e com muita saúde! Mega evolução!! Pronta para mais 25, 35, 50 anos!




10- Dezembro 2011- O dia em que fiquei mal quando vi aquela foto lá do começo do post... Mas escrevendo, escolhendo as fotos e refletindo um pouco mais...É ainda mais claro o fato de que não posso reclamar de nada...Sou muito abençoada de ter sobrevivido e agora é viver a vida e deixar alguns detalhes para lá...