segunda-feira, 6 de setembro de 2010

1- Parte1

"Perdi 800 Euros e minhas férias!". Foi o que pensei quando cheguei para fazer o check-in no aeroporto de Dublin para ir para  o Brasil e descobrir que meu vôo tinha sido adiantado 2 horas, o que significa: perdi o vôo. A minha única reação foi pensar no quanto tinha pago na passagem e rapidamente sem muito esforço, fazer as contas e me dar conta de que não conseguiria comprar outra passagem em cima da hora para ir viajar. Enfim, como coisa de Deus (essa é a expressão que mais ouvi durante esses meses) e ajuda da simpática atendente do serviço ao consumidor da BMI, consegui remarcar a passagem à custo zero, para o próximo dia, no mesmo horário.
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Até então, só um desânimo bateu, ter que voltar para casa, desfazer mala, criar toda a expectativa denovo...Nada de muito estresse. Liguei para o Pankaj, meu namorado, não consegui falar com ele. Estava sem a chave do meu apartamento, tinha deixado com ele para que caso precisasse de algo ou quisesse ficar lá durante a minha ausência, não encontrasse problemas para entrar na casa. Mas quem disse que consegui falar com ele. Entrei em contato com Vikran, melhor amigo e avisei que estava voltando para o centro da cidade em 20 minutos, pois tinha perdido o vôo e passaria mais uma noite em Dublin. Peguei o táxi, não sabia exatamente o nome da rua, mas cheguei no apartamento deles e por lá fiquei. Nem tive coragem de dormir no meu e bagunçar tudo que já tinha organizado antes de partir.
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No dia seguinte, depois de quase nao dormir, cheguei 3 horas antes para fazer o check-in e tudo deu certo. Oh, finalmente iria para o Brasil. Hoje é até engraçado pensar em todas essas cenas, lembrar das minhas conversas, da ligação para minha mãe avisando que tinha perdido o vôo e não ter noção do que aconteceria horas mais tarde.
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Fiz escala em Londres e tudo foi muito tranquilo. Comprei algumas bebidas no free shop, duas garrafas de Jameson e duas de Baileys para dar de presente para o pessoal assim que chegasse. Comecei a me sentir no Brasil ali mesmo no portão de embarque da TAM. Todo mundo em pé formando fila uma hora antes do portão de embarque abrir. Parecia que era um vôo da Ryanair de 10 Euros, onde ninguém tem assento e que salve-se o mais rápido. Desculpa, mas foi uma cena engraçada que me fez lembrar a famosa frase que "todo brasileiro adora uma fila".
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Já no avião, agradecendo todos os santos por estar ali e sentir que realmente era verdade, estava rumo ao Brasil, relaxei e tentei dormir. Não conseguir dormir, mesmo com o remédio que o Pankaj tinha me dado - acho que algo do tipo Dramin. Depois da janta tomei uma taça de vinho para ver se conseguia relaxar, ou dormir, ou ficar mais feliz, mas nada aconteceu. Sempre a mesma sensação de desconforto. Claro que a todo momento o que eu pensava era a ansiedade ou cansaço da viagem de mais de 10 horas, que aliás, levantei só uma vez para ir ao banheiro e só. Nada de esticar as perninhas durante a viagem.
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Como tinha perdido o vôo do dia anterior, consequentemente perdi o vôo São Paulo-Londrina, que minha mãe tinha comprado separadamente pela Gol. Não era conexão, então uma boa taxa foi cobrada para remarcar a passagem para o dia seguinte. Meu vôo estava planejado para chegar às 7 da manhã, 3 horas antes do vôo da Gol que teria que pegar. Tempo suficiente para pegar as malas e fazer o check-in denovo. Meu vôo chegou depois das 8 da manhã, ao mesmo tempo um vôo de Miami, Frankfurt, Madrid e Paris. O saguão da Polícia Federal e das esteiras para pegar as malas estavam insuportavelmente lotados.Filas para todos os lados. Descobri que não é o brasileiro que gosta de fila, mas que ele não tem escolha porque na maioria das vezes o sistema não funciona de uma forma muito ágil. Então o negócio é esperar por tudo e isso se torna um hábito.
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"Seja bem vinda de volta ao Brasil Cíntia", o oficial falou depois de carimbar meu passaporte. "Obrigada" foi a minha primeira palavra em português em solo brasileiro. Saí de lá todo orgulhosa e mais do que atrasada, já quase esquecendo da próxima conexão, fui atrás das malas. Metade dos passageiros do avião já estavam lá esperando pela bagagem há alguns bons minutos e nada da esteira funcionar. A cada minuto eu olhava para o relógio e tinha vontade de sair dali correndo. Era tudo tão confuso, eu batia nas pessoas com meu carrinho de bagagem vazio e falava "sorry" ao invés de "desculpa", suava muito como se logo pela manhã os termômetros atingissem mais de 40 graus. Não posso afirmar qual era a temperatura, mas estava insuportável ficar ali. Depois de quase 3 anos na Europa sem sentir o que é um verão de verdade, aquilo já estava perto do inferno para mim. Até prender o cabelo em público eu prendi, coisa que nunca faço em função daquele probleminha com as orelhas.
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Eis que a esteira começa a funcionar, isso quase 9 da manhã. Vi a mala de todo mundo chegar, até da loira que vi no aeroporto de Londres com 3 malas enormes, voltando para sempre para o Brasil e que fiquei completamente cheia de raiva e inveja ao ver a menina lá, intacta, com os cabelos lisos, pele linda, roupa alinhada, como se não tivesse viajado 12 horas no mesmo avião que eu. Enquanto que a Cíntia aqui estava se acabando no suor e no estresse da mala que não chegava.
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Acho que estava na cara a preocupação, porque dois funcionários do aeroporto vieram falar comigo e perguntar como eram as minhas malas. Expliquei quase chorando, falando que ia perder meu próximo vôo, que pelo amor de Deus, achasse minha mala. Uma apareceu, a menor delas. Não sei se é fácil entender minha situação nesse caso. Quando você sai de férias, naturalmente escolhe as roupas, sapatos e acessórios que mais gosta para levar, compra presentes para os familiares ou para a pessoa que vai visitar. Claro que ninguém quer ter a mala extraviada, principalmente quando suas férias estão programadas dia após dia.
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"A senhora pode vir por aqui para preencher uma ficha, que assim que localizarmos sua mala, mandaremos ela para qualquer endereço que nos fornecer". "Mas que caralho" - respondi para o rapaz que gentilmente estava tentando me ajudar. Ainda não tinha desistido do meu vôo das 10 da manhã. Preenchi tudo que foi necessário, ganhei um kit da Tam com shampoo, escova e pasta de dentes e uma camiseta branca GG - como se isso substituísse minha mala de 25 kilos recheada de roupas da Zara e da Pennys.
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"Sua mala ainda está em Londres e vai ser enviada amanhã, neste mesmo vôo que você chegou." Ah que lindo, tinham que esquecer logo a minha mala, mas enfim, pelo menos encontraram. Por conta de tudo isso, enfrentei mais algumas filas para deixar meus documentos assinados e finalmente estava passando pelo portão de desembarque. Saí correndo igual uma louca, troquei dinheiro, abri a única mala que tinha chegado, o que estragou parte dos meus planos, no meio do aeroporto de Cumbica. Tentava de todas as maneiras colocar lá dentro as garrafas que tinha comprado em Londres e que deveriam ser despachadas no avião da Gol. Coloquei metade na mala grande e metade na minha mala de mão. Já não tinha opção, teria que despachar as duas malas. Na dificuldade de fechar uma das malas, sentei em cima dela e pedi para um casal que estava só me observando, tentarem fechar o zíper, e assim deu certo.
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Achei o check-in da Gol, mas mais uma vez o não foi atirado na minha cara. Apesar da ajuda da funcionária que ainda deu um grito para o rapaz que estava atrás do balcão fechando o sistema, perguntando se ainda dava para entrar mais uma, outro não soou como um tapa na minha cara. Mais um vôo perdido.